Maysa Monjardim


Maysa Figueira Monjardim, mais conhecida como Maysa Matarazzo ou simplesmente Maysa (São Paulo, 6 de junho de 1936 - Niterói, 22 de janeiro de 1977), foi uma cantora, compositora e atriz brasileira. Ao longo da sua carreira imortalizou uma discografia com mais de 25 títulos. Cristalizou uma das mais sensíveis obras da Música Popular Brasileira.


Referências estruturadas:


...como é que eu vou poder cantar se a minha dor está envergonhada, fora de forma, está parada para pensar. Como é que eu vou cantar as minhas tristezas, se elas estão tão enroladas que eu nem mesma sei. O que foi que restou da minha vida? Onde estão as minhas mágoas? Onde é que eu estou? Será que eu vou ter que cantar as tristezas dos outros, tendo tantas que são minhas?





1)      Maysa, uma das estrelas mais bem pagas da música brasileira.

Aos 22 anos, a jovem Maysa de vestido branco sem alças e usando um colar de pérolas autenticas que dava seis voltas no pescoço, ela cantara como nunca. Como de costume, cantava de nariz empinado, com atitude superior, como se fulminasse a plateia com o olhar. Mas os olhos, delineados com lápis preto e capricho, tinham o mesmo verde e o ar imperativo de sempre. Ao final da canção, imóvel no centro do palco sob a luz prateada do refletor, foi aplaudida de pé durante cerca de cinco minutos.

Os olhos de Maysa são dois
não sei quê dois
não sei como diga
dois oceanos não-pacíficos.
Maysa são dois olhos e uma boca.
(Manuel Bandeira)








2)      Maysa, a mãe artista.

Maysa esperou que o bebê nascesse para só depois entrar em estúdio. O garoto, que veio ao mundo em uma cesariana realizada no dia 19 de maio de 1956, recebendo o nome do bisavô materno, Jayme.

Desquitada de André, a vida de Maysa entrou em vertiginosa roda-viva. Apesar de ter ficado com a guarda do filho Jayme, de apenas um ano e três meses, ela parecia querer recuperar o tempo que julgara perdido durante o casamento e, assim, mergulhou fundo na carreira de artista. Assim, Jayme ficava bom tempo na casa dos avós maternos.

Maysa leva o filho para Europa.

Jayme é matriculado no internato espanhol onde permanece por anos.

Ao completar 15 anos, o garoto obteve sua emancipação legal, concedida por Maysa.
3)      A Maysa dos excessos: álcool, cigarros e remédios.

Aos 23 anos, tentara o suicídio depois de se olhar no espelho do banheiro de casa e ter se deparado com a imagem de uma mulher em ruínas.

Maysa fora internada com uma crise de pressão baixa, provocada pela ingestão combinada de uísque e um punhado de comprimidos para dormir.

Diagnóstico de esgotamento nervoso e grave debilidade física.

Maysa em uma auto entrevista: Maysa enfrente Maysa (encarava o próprio rosto no espelho)

R: Você é masoquista?
M: Às vezes. Considero masoquismo aturar sem queixas uma porção de pessoas. Detesto gente burra e vivo me encontrando com elas.

R: Se é só este o seu masoquismo, por que você vive atritando fitas de papel com os dedos, até fazê-los sangrar?
M: Até sangrar é exagero. Tenho este hábito desde menina. Acho que é uma preparação inconsciente para enfrentar as dores que o destino sempre me reserva. Dor física, aliás, jamais me fez medo. Tenho medo apenas do que não depende de mim: amar e não ser amada, por exemplo.

R: Seu êxito dependeu apenas de seu talento?
M: Já fiz muitas concessões para obter sucesso e hoje estou profundamente arrependida. Agora não há fabricante de discos que me faça gravar o que eu não sinta. Já gravei muita droga para esta gente.

R: Caso fosse possível, você deixaria de cantar imediatamente?
M: Não, para a gente deixar de fazer qualquer coisa que nos afirme é preciso substituí-la, sempre, por algo melhor. Para mim, a única coisa melhor do que cantar seria... cantar só para quem eu amasse.

R: Eu sei que você não “ama” seu atual público no Copacabana. Mas pelo menos gosta dele?
M: Por enquanto, não. Grã-fino, geralmente, não gosta de música e muito menos de artista brasileiro.

R: É por isso que você bebe minutos antes de cantar?
M: A bebida é a bengala de um velhinho que mora em minha personalidade. Mas tenho certeza de que uma criança que existia em mim, antes de tantas coisas acontecerem, um dia voltará. Só então saberei quem sou.

R: Mas você não bebe somente antes de entrar em cena, não é? Por que você bebe de um modo geral?
M: Primeiro porque quero. Depois porque trabalho para pagar o que bebo. Finalmente, porque tenho senso de autocrítica. Muitas vezes reconheço-me insuportável e eu só suporto os insuportáveis bebendo.

R: Você acredita que um dia deixará o álcool?
M: Deixarei a bebida quando encontrar o amor. Mas para amar é preciso estar preparada. Quero, preciso e ainda amarei.

R: Você se sente sozinha? Tem medo de ficar sozinha?
M: Pavor. Quando estou só, tenho certeza de que sou maior do que eu mesma e isto me apavora. Ninguém deve conhecer a sua própria dimensão.

R: Você já tentou se matar algumas vezes. Em qual delas foi sincera?
M: Em todas. Mas em nenhuma eu queria morrer imediatamente. Por isso morria pouco. Só uma coisa me faria morrer até o fim: o amor.

4)      Maysa, uma mulher a frente do seu tempo.

Seria fácil recorrer ao maniqueísmo e retratar André apenas como um vilão disposto a jogar pás de terra sobre a vontade inabalável de Maysa em ser artista. Mas, se levadas em conta as pressões da sociedade conservadora em que ele havia nascido e da qual também era essencialmente um integrante, a questão era muito mais complexa do que, à primeira vista, poderia parecer. André considerava já ter feito até ali uma série de concessões que, poucos meses antes, um tradicional Matarazzo jamais acreditaria ser capaz de fazer. Erra como se ele suportasse sobre os ombros o brasão de 150 quilos que ornava o portão de ferro da mansão na avenida Paulista. Mas o curioso é que, a despeito de toda a pressão familiar e de seu ciúme, foi com seu aval – e com sua ajuda – que Maysa começou a cantar na televisão.

Ouça vá viver a sua vida
com um outro alguém
hoje eu já cansei de pra você
não ser ninguém.
(Maysa, gravação de 1956)

No dia 1º de setembro daquele ano de 1957, a Última Hora – jornal que circulava apenas aos domingos nos bairros de classes alta e média de São Paulo – profetizou:

“E a arte venceu, Maysa preferiu o desquite. Morre um romance. Nasce uma artista.”

O Brasil dos anos 1950 não podia admitir que uma mulher descasada ousasse retomar nas mãos as rédeas da própria vida. De queridinha do país, Maysa transformou-se em saco de pancadas da mídia. Do dia para a noite, passaram a criticá-la em tudo e por tudo.

Meu mundo caiu
e me fez ficar assim.
Você conseguiu
e agora diz que tem pena de mim...

(Maysa, gravação de 1957)


Ninguém pode calar dentro em mim

Esta chama que não vai passar
É mais forte que eu
E eu não quero dela me afastar 
Eu não posso explicar quando foi

E nem quando ela veio
E só digo o que penso, só faço o que gosto
E aquilo que creio


Se alguém não quiser entender

E falar, pois que fale
Eu não vou me importar com a maldade
De quem nada sabe
E se alguém interessa saber
Sou bem feliz assim
Muito mais do que quem já falou
Ou vai falar de mim.

(Canção “Resposta”)

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