Quando aceitei o
convite para participar da encenação “Maysa: corpo, voz e movimento” não tinha
ainda uma ideia muito formada acerca do projeto, o que muito me influenciou na
decisão foi primeiramente a oportunidade de trabalhar com Arthur, pois já havia
visto alguns trabalhos dele como ator e havia gostado muito, depois por se
tratar da figura da Maysa, uma mulher visceral e que teve uma vida intensa em
todos os sentidos. Com relação à estética utilizada para a montagem, confesso
que fiquei bastante insegura, além de não ter muita experiência com o teatro,
conheço muito pouco de dança-teatro comecei a ter algum contato com esse tipo
de linguagem esse ano, através de espetáculos que vi, as aulas de expressão
corporal e um documentário que assisti sobre a Pina Bausch, aliás, Pina é a
grande inspiração do Arthur. Encontrar uma relação orgânica entre o corpo e a
voz, não dissociando mente e corpo para que se faça surgir através de muito
trabalho movimentos cheios de vida, que consigam transmitir a visceralidade de Maysa,
eis o grande desafio. Sinto uma enorme responsabilidade, não no mau sentido, de
conseguir trazer para meu corpo a força e intensidade com que Maysa viveu, como
diz o Arthur as intenções em cena tem de ser decididas, sem hesitação, pois foi
assim que Maysa viveu.
Em um desses últimos ensaios tive um grande aprendizado
e descoberta para minha própria vida, enquanto trabalho de direção um dos nortes
é trabalhar com a dificuldade e o risco, na cena em que eu e o Johann fazemos
uma partitura de desequilíbrio em cima das cadeiras, enquanto Maysa canta a
música “resposta”, eu sentia muito medo de cair, ou não buscava tanto me
arriscar saltando de uma cadeira à outra da maneira mais segura, foi então que
o Arthur disse que não havia problema em cair ou “errar”, mas o importante era
saber o que fazer com o erro, buscar soluções sem hesitação. Estamos sim,
trabalhando duro, com técnicas, marcações, mas como teatro é equivalente à
vida, estamos no caminho do controle e descontrole, ensaiamos e temos sob
controle o desenvolvimento do processo, mas como numa concepção de teatro e
vida não superficial e mecânica e sim intensa de todo tipo de experiências,
emoções e sentimentos, estamos passíveis a erros sim, a quedas, a fraturas
tanto físicas como emocionais. Fiquei então pensando, que a vida é bastante
isso buscar um equilíbrio entre esse controle e descontrole, porque controle
demais torna a vida insossa e mecânica e somente o descontrole pode nos levar a
quedas fatais, e o mais importante de tudo saber o que fazer com o erro, buscar
uma solução para isso. Pra mim a cena das cadeiras representa isso, controle e
descontrole na linha da vida, as quedas, o medo, a coragem de se arriscar, as
adversidades, digo isso porque pra mim é mais do que uma encenação sobre a Maysa,
é sobre eu, tu, ele, nós, todos aqueles que buscam uma vida menos mecânica e
superficial, sobre aqueles que como Maysa tentam se buscar de todas as formas
possíveis.
Por vezes fico bastante emocionada vendo a Tainara interpretando a
Maysa, algumas feridas dela também são minhas. Esse também é outro ponto
importante, estamos tendo contato com um rico material sobre a cantora Maysa
através de livros, das postagens do blog e no grupo da encenação no facebook, são
informações que vão muito além da carreira artística, fragmentos de seus
diários, suas poesias, pinturas, entrevistas... Gosto muito também das soluções
que são dadas para as cenas, trabalhamos com um cenário muito simples, com
objetos muito simples, mas que em cena e pelo fato de como eles são manipulados
o que era simples torna-se fantástico. Bom, e como ainda estamos em pleno
processo, espero poder superar minhas dificuldades e certos bloqueios, acredito
que teatro seja transformação e espero estar forte e segura para me transformar
ainda mais.
por Bruna Anjos
Atriz
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